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terça-feira, maio 04, 2004

Recordo hoje como se fosse ontem, a ânsia, o ardor, a vontade de fazer, de querer. Recordo como se fosse hoje o dia em que percebi que amava. Recordo as sensações, o mau dormir, os olhares. Ainda hoje me lembro do sabor do primeiro beijo, do primeiro carinho. Que bom é o começo, que bom tem sido a continuação e melhor ainda será o desfecho. Recordo como se fosse hoje o primeiro dia de trabalho. Os suores frios, a vontade de ir constantemente à casa-de-banho. Ainda hoje me lembro dos halls que tive de comprar para poder falar. Recordo a angústia de não saber o que fazer, de não saber onde me sentar. Recordo como se fosse hoje a alegria de ter ultrapassado o primeiro dia de trabalho. Lembro-me bem ainda do dia em que entrei para o Instituto. Tanta gente nova, aprender a fazer a cama, o comboio que passava durante a noite. Recordo como se fosse agora a alegria pela sexta-feira para poder contar o que havia aprendido nesses primeiros dias. Lembro-me da dor de ter de sair para um ano depois ter ultrapassado tudo com o retorno a tão amada casa, para o meio dos amigos. Lembro-me como se fosse hoje quando soube que o meu avô, primeiro e a minha avó depois tinham morrido. Que dor estúpida me ultrapassou o corpo. Aquela sensação de que nada é real. Não sei se choro se rezo. Lembro-me como se fosse hoje quando acabei o curso, quando tirei a carta. As minhas memórias continuam vivas, aqui na minha cabeça. As minhas memórias são, pelo menos em parte iguais às de tantas outras pessoas. As nossas memórias mostram aquilo que fomos, que agora somos e poderemos ser. Pelas minhas memórias tenho a certeza de que tentarei todos os dias ser melhor marido, amigo, pai, filho. Pelas minhas memórias tenho a certeza que as dúvidas serão ultrapassadas com firmeza e daqui a uns anos sei que as palvras que vos escrevo também vão estar gravadas numa página, assim como vocês todos. Ainda recordo o que me levou a criar este blog. Ainda tenho mais recordações que quem sabe um dia iremos partilhar.
Recordar é mesmo viver.

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