Páginas

segunda-feira, março 15, 2021

O menino E

Aos dez anos temos uma perspectiva de vida que nos é dada pelos nossos pais, pelas pessoas que nos rodeiam. E aos dez anos a minha perspectiva mudou ao entrar para uma escola militar. Pude conhecer pessoas, crianças de várias zonas do país e de várias famílias e costumes.
Um deles dormia no beliche por cima de mim e era a imagem de um miúdo da província, desadaptado e que, por ser trapalhão ganhou uma alcunha que em nada reflecte o que se viria a tornar. O E era o atrofiado mas, de atrofiado nada tem. De cair do beliche a dormir a quase se afogar na piscina com água pela barriga tornou-se num excelente aluno e num grande desportista só pelo seu esforço e carolice. As coisas não pareciam sair de forma natural mas nada disso o impediu de desbloquear o corpo e a mente. O que é mais extraordinário nisso é a tragédia familiar que o rodeou desde que nasceu e apenas a avó se manteve como uma referência... Entre outras que deverão ter surgido, ele fez todo um caminho. De um génio da finança ou consultoria, saiu para ensinar os outros a serem melhores. Claro que há-de ganhar dinheiro com isso. E para alguns será até uma aldrabice mas, a verdade é que há muita gente que lhe agradece por dominar a sua mente e corpo. Para mim e olhando para ele via zoom aqui e ali, vê-se bem que é o mesmo menino de Almeirim que eu conheci há 33 anos. Um abraço para ti 41.

quarta-feira, março 10, 2021

A inconstante constante

Se eu achasse que a minha ex-mulher era perfeita e que eu a amava não tinha saído do casamento, estava casado, em casa a limpar o carro. Mas não, senti que não nutria amor e que cada vez mais me sentia pior, com vontade de largar tudo e tanta coisa má que me passava na cabeça.
Isso teve um preço, alto por sinal mas a vida continua.
Isso não quer dizer que tenha de fazer tudo diferente ou que não possa aceder ou concordar com um ou vários pedidos. Mesmo que não seja a minha ideia ou vontade mas, estou numa fase em que não quero confrontos com alguém que fará sempre parte da minha vida e que é tão só a mãe dos meus filhos. 
Nada nem ninguém pode estar a julgar as minhas decisões porque não concorda com as decisões da minha ex-mulher. Há um limite naquilo que temos a dizer e ouvir. E o meu limite é não querer que faça o que fizer alguém não concorde e queira sempre dar a sua opinião e forçar a sua visão. Não me apetece discutir com ela por isso não tenho de discutir via outra pessoa. A minha paz interior ainda está longe mas cada vez mais perto e não quero que a perturbem só porque querem fazer a ou b e eu digo que não vou porque estou a aceder a um pedido da mãe dos meus filhos. É entre mim e ela e o resto do mundo pode continuar a sua vida. Não tem de me moer. Não preciso. 
Dito isto quem insiste em o fazer, tem de levar com a minha resposta. E é uma chatice ter de levar com ela. Mesmo quando eu digo que não quero discutir... Se insistem, têm de ouvir. Se não gostam, então se calhar não me respeitam assim tanto. A vida é feita de cumplicidade mas também de espaço, cedências e compreensão. Se não aceitam, calam-se é seguem a vida ou aquilo que querem fazer e eu não. É tão simples não é? Eu não prendo ninguém mas as pessoas parece que gostam de conflitos e dar-me uma amarra.
É triste porque depois não gostam e viram as costas. E eu acabo a jantar sozinho e a desabafar para ti.