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quinta-feira, maio 29, 2014

Irritam-me estas coisas

É como se quisesse que o mundo fosse como eu. E não é! Não tem de ser. Mas mesmo assim fico irritado com estas demonstrações. É como se quisesse que a minha forma de ser solitário fosse o padrão, a normalidade. E parece que não é. Não tem de ser. Fui longe demais para voltar atrás e dou por mim a irritar-me mais com a felicidade dos outros do que com a falta dela. É como se cada pedaço de felicidade me fosse arrancado do corpo. Não faz sentido, mas é assim.
Fechado numa concha e à espera que tudo à volta fosse assim e não é. Revolta-me. Nem sei bem porquê. É como se fosse dono de uma verdade que não o é. Nem deve ser. Aceito cada um como é, mas por vezes invade-me um sentimento de falsidade. Lembra-me sempre aqueles que são solidários para aparecer numa capa de revista. E irrita-me. Muito! Se calhar irrita-me porque às vezes me ouvem. E às vezes parece que não me ouvem. Quando eu mais precisava de ser ouvido. Não um grito de ajuda, mas uma opinião, sei lá. Nem sei bem explicar a minha necessidade de estar fechado. A olhar o mundo e a sofrer por ele. Só e bem acompanhado por estes sentimentos. Preferia que o mundo não demonstrasse sentimentos? Ou formas de ser diferente? Se calhar....se calhar. Às vezes apetece-me caminhar em direcção a um nada. Não olhar para trás e não querer voltar. Como se as coisas tivessem deixado de fazer sentido. Como se tudo à volta estivesse errado.
É assim no trabalho, na familia, no amor. No que resta de amizade.
Digo que vivo bem só. E vivo. Não consigo é viver com os outros.
Sinto falta dos meus filhos, mas não sinto falta de estar na mesma casa com a mãe.
Sinto falta dos meus amigos mas não sinto falta do sentimento de culpa.
Às vezes apetece-me ir ver os meus pais sem ter de deixar nada para trás.
Infelizmente tudo me parece inconciliável...e não tem de ser.
Fico só para ver os outros sorrir. À distância. E isso consome-me quando o sorriso transborda.
Que estranha esta forma de viver.
Que estranha esta forma de ser.
Que raio de coisa para se conseguir explicar.
É como se fosse um ET deixado para trás. Se calhar gosto tanto do star wars por isso. Uma história de amor espalhada por uma galáxia com o mau que afinal só o é porque tentou proteger o seu mundo.
A diferença é que invariávelmente o meu mundo...sou eu. Com as minhas coisas, com as minhas feridas, com as minhas saudades. Inconciliável.
Engraçado mencionar saudades.....digo sempre que não tenho. Mas com filhos as coisas mudam. O que hoje faz sentido, amanhã logo se vê.
É como se de facto eu fosse único. Se calhar sou. Se calhar sou mesmo único.


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