O Vendaval
Soltando o vento injúrias, logo pela madrugada
O céu a contorcer-se numa fúria enegrecida,
Deixo rolar meu olhos pela terra acinzentada
Na fase de uma Lua, como foi a minha vida.
Como foi a minha vida, numa tela que pintei
Com cores ao meu gosto, como quis embelezá-la,
Agora me interrogo, como foi que despertei,
Ao saber que uma alma em branco tinha pra pintá-la.
Há uma tensão ligeira que pairando pelo ar,
Em laivos de ciúme, cala o canto à cotovia,
Já o rouxinol, à noite, reuniu o seu cantar,
A encolher-se à noite, murmurando: «venha o dia!»
No céu, passa a gaivota, tão alfita sem sossego
Foge deste vendaval, parece o diabo à solta.
O vento é um marido que traído foi, e cego
Devasta cá na terra, tendo Harpias por escolta.
Tudo à volta se agita, tudo à volta é medonho
Vejo árvores tombadas mesmo no meio da rua
Tudo à volta é Guernica, o que antes fora risonho
Sente-se o capricho do Inverno! E continua…
às escondidas...um amigo.
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